Sábado

Dormi numa sexta feira
Esperava acordar num sábado
Pela manhã, tipo Nárnia, fui teletransportado
Voz de mãe no portão, era sonho, não podia estar acordado

Fiquei meio tonto meio perdido no espaço
Não tive certeza se era verdade nem quando ganhei um abraço
Abraço longo e apertado, só podia ser delírio, bom demais pra ser verdade
Sorriso, conversa, lágrima... um intervalo na saudade

Sonho longo como aquele abraço, durou um fim de semana inteiro
Teve passeio, presente, ceia... nem lembrava que era natal
No meu peito parecia mais ser carnaval
Meu coração em festa, batucava como se fosse fevereiro

E foi buscar quem mora longe o sonho meu
Trouxe ela ainda mais linda mais jovem mais feliz
Me fez lembrar a alvorada, como no samba o Cartola diz
Iluminou meu caminho com esse sorriso seu

Ela caminha ao meu lado
Um pergunta se é minha esposa, se é minha mãe, o que ela é minha
Respondo sorrindo: Ela é minha rainha!
Rainha que faz surpresa, que fala alto, que sorri e toma nossa atenção de assalto

Hoje vai ter despedia
Aperto no coração, hoje o batuque termina
Hoje, segunda, parece quarta de cinza
Vou dormir cedo, quero acordar descansado
Tenho a esperança que, novamente, amanhã seja sábado 

Teoria

Tenho uma teoria para as frase a abaixo relacionadas:
"As feministas são todas mal amadas!"
"O racismo não existe, chega de vitimismo!"
"Temos a cura para o homossexualismo!"
Teoria simples e objetiva
Cabe como resposta à estas afirmativas
Pra você que comunga destes pensamentos
Que já falou ou pensou assim em algum momento
Espero que esta teoria comova a ti
Por isso apresento-lhes a teoria do FODA-SE!

O que eu quero

Quero ignorar aquilo que não vale a pena
Quero saber quando sair de cena
Quero proteger mais meu coração
Quero agir menos na emoção

Quero buscar aquilo que me traz alegria
Quero esquecer um pouco desta insistente rebeldia
Quero cantar, dançar, saltar, sem me preocupar com a crise
Quero assistir algo que eu goste, mesmo que seja reprise

Quase todo mal

Poema nosso que está no céu
Terra, mar
Esteja em qualquer lugar
Que nos faça sorrir em teu reino
Que seja nosso não pela metade
Mas inteiro
Tentação, sem ofensa
Que a tentação seja intensa
Que sejamos tentados a amar
Tentados a querer menos e ser mais
Ser tudo que a gente sonha
Aqueles sonhos lindos durante a insônia
E que cada palavra seja amor
E cada silêncio seja fazendo amor
Ou barulhento, tanto faz, desde que seja amor
E nos livre de quase todo mal...
Só não do malte
Aquele da cerveja com os amigos
Amem
Assim mesmo sem acento
Mas que seja um amor acentuado!
Acentuado de enfático
Não teórico, mas de fato.

Urubu

Eu proletário e poeta
Me assemelho a um urubu
Posso até me submeter à praticas repugnantes para sobreviver
Mas jamais abrirei mão de alçar os voos mais altos

Presente

Da vovó que está no céu
A mamãe guardou o carinho
Da vovó que está na terra
Um caminhão de beijinho

Para a mamãe um nobre cavalheiro
Para o papai um grande guerreiro
Muitos sonhos temos pra você
Mas por enquanto só seja o nosso bebê

Gordinho, cheinho de amor
Marronzinho, que linda sua cor
Chora porque quer colinho
Nos braços te dou um cheirinho

Chegou realizando muitos dos sonhos meus
Chegou trazendo alegria como um presente de Deus
Sorrindo pousou em meu colo, como quem veio do céu
Em agradecimento a Deus vamos chamá-lo de Theo

Bala de Tamarindo

Algum amigo do Rio que para o sul esteja vindo

Faça-me o favor de trazer umas balas de tamarindo

Sei que não posso pedir que traga o calor

Ou toda a amizade e amor

Eu pediria aquelas conversas no fim de tarde quente

E também aquele “rolé” na praça cheia de gente

Sei que não daria pra trazer a fala chiada

Nem a discussão sobre futebol, sempre inflamada

Não dá pra trazer a infância querida

As goiabeiras, as mangueiras floridas

Ou a piscina que a mãe enchia

Aquela que brincávamos todo dia

Se pudesse, tanta coisa boa pediria

Do boneco do Hércules que ganhei do pai a alegria

O natal na casa da tia

A mãe cantando samba e a comida que ela fazia

Pediria o céu do tempo de pipa

Pediria a festa junina e as ruas cheias de fita

Pediria o pique que a gente brincava

O cansaço de tanto que a gente corria

Da escola eu pediria só o recreio!

E aquele dia que fomos ao zoológico a passeio

O dia que a mãe me buscou antes que a aula acabasse

Naquele dia fomos a praia, como queria que esse dia voltasse

São tantas coisas que ficaram por lá

Impossíveis de trazer pra cá

Eu passaria horas pedindo e pedindo

Mas não esqueça de trazer as balas de tamarindo

Velho

Renovei meu arsenal de poemas

Passei pelo bar da esquina

Encontrei um velho e seus dilemas

O velho me contou coisas novas

Coisas que eu não sabia

Eu ouvia o que o velho dizia

Eu sentia o que o velho sentia

Ouvi histórias loucas, não poucas

Ouça para saber e para ser veja

Mas para que faça sentido cerveja

A cada gole uma nova frase ou verso

E nas memórias do velho eu submerso

Ele dizia na vida sempre haverá dor

Rico, pobre, preto, branco...

Na vida sempre haverá pranto

Forte, fraco, corajoso ou não...

O importante é proteger o coração

Mas nunca de mais 

para não perder oportunidades de amar

Também nunca de menos

Para não sofrer em vão

Levantei e segui meu caminho

Acenei para o velho como quem agradecia

Para muitos ele era um simples bebado

Para mim um grande sábio

Bom Dia

Acorda cantando a capela

Voz ainda rouca, mas bela

Café passado à mesa

Me abraça, me cheira, me beija

Recado no quadro de giz

Pedindo pra eu ser feliz

Atraso que já é rotina

Ligeira fechando a cortina

Me conta o que espera da vida

Me segue até a saída

Reclamo que a manhã está fria

Ela me abraça e deseja bom dia.

Cicatriz

Um traço e tudo começa
O sangue com a tinta conversa
O artista de olhos fixos e mão firme
Fere mas sem cometer qualquer crime

Há dor, porém nos deixa feliz
Ardor da agulha que diz
E fala tudo como quem versa
Em telas nobres e diversas

A pele escolhe o artista
A pele escolhe a arte
O artista a pele conquista
O tempo da arte faz parte

A ferida exige cuidado
Para que se veja na pele aquilo que se tinha sonhado
Um mantra, um sonho, um desenho qualquer
Vai compor o corpo, vai descrever quem você é

Vai ficar marcado na pele
Aquilo que a alma disfere
Vai dizer o que a voz não diz
Essa é a cicatriz que eu quis

Vida poética

Meu ritmo é o da caminhada
As vezes correr é preciso
Eu gosto da batucada
Mas as vezes só silencio faz sentido

Eu rimo, nem só com palavras
Melhor rima é a dos sentimentos
Posso rimar momentos
Posso até não rimar

Meus versos são assimétricos
Curtos, longos, médios... Como olhares intrépidos

Minhas estrofes encerram sentidos
Dias, horas, semanas, segundos as vezes parecem perdidos
Como estrofe sem contexto

Vejo a vida sendo escrita
Sempre falta uma rima
Sempre troco um ponto
Não sei quando o texto termina

Quero a vida em versos
Quero lugares diversos
Menos atos perversos

Verso expresso

Em verso expresso
O meu pensamento inverso
Sobre o que na rede é repetido
Podem até me considerar subversivo

No ritmo digo
No riso sinto
O que na verdade é mentira
Indo da justiça à irá

Não "curto" a pena de  morte
Não "curto" a lei do mais forte
Não compartilho a palavra de ordem
Prefiro o progresso do bem

Sou contra o golpe que se espalha por aí
Não passa do antigo "joga pedra na Geni"
É sujo contra mal lavado e no fim todos ficam de pé
E o malandro na dureza ainda na mesa do café

Não sigo quem sai impunemente
Chingando, odiando, menosprezando quem é diferente
Entre homem e mulher prefiro quem é gente
Antes de abrir a boca é melhor abrir a mente

Pra cada crítica vários pontos de vista
Não veja sempre a mesma revista
Nem a mesma tv, é bom mudar o canal
Não confie num jornal só por se dizer nacional

Ser preto

Tem que ser preto pra saber o que significa meu cabelo
Pra saber o que diz o punho cerrado e o ato de erguê-lo
Só sendo preto pra entender a verdade da piada
Só sendo preto pra entender a recusa em dar risada

Tem que ser preto pra se sentir em casa na periferia
Tem que ser preto pra saber a cara de quem "trampa" na cozinha
Só sendo preto pra sentir abertas as portas das universidades
De cota em cota quem é preto vai cobrando a dívida com sua ancestralidade

Tem que ser preto para perceber o racismo da polícia
A indiferença na notícia
E sendo preto pode ser o único revistado na condução
Ou o único acompanhado pelo segurança na loja em meio a multidão

Tem que ser criança preta pra saber que o herói é branco
A heroína é branca
E na TV a preta é empregada
Quando não, está na senzala

Se não for preto faça me um favor
Cale, chegou vez do preto bradar com fervor
Meu batuque será ouvido
Meu verso tomará sentido
Outros pretos, não poucos
Terão os grilhões das mentes soltos

Será ela

Tem que ser santa, fiel e pura
De acordo com seu próprio código e postura
Tem que ser sã em todo momento
De acordo com seu próprio julgamento

Será linda, com toda a certeza
Sem se render aos padrões de beleza
Será dele, deles, dela e delas também
Mas se não quiser, será de si só e mais ninguém

Será forte! Ai de quem se opor
Será guerreira se preciso for
Será mãe, se tiver vontade
Seu corpo não é nossa propriedade

Será exemplo, líder, livre, independente
Será grande, respeitada, inteligente
Será feliz da forma que quiser
Mas antes de tudo será mulher

Sábio moleque

Geralmente calado
Esperando a hora certa de falar
Saca do bolso aquele velho ditado
Engraçado, mas sem vacilar

Na humildade sem esculachar ninguém
Busca o certo pelo certo e faz isso muito bem
Bem quisto onde vai
Respeita quando chega é respeitado quando sai

Exemplo, apesar da pouca idade
Sempre passando um ar de tranquilidade

O cabelo mudou
Mas o estilo é o de sempre
A firmeza de sempre
A franqueza de sempre
A torcida de sempre
(Botafoguense)
E eu!? Eu sou fã como sempre.